No Brasil, a leishmaniose visceral canina é uma doença infecciosa e não contagiosa que acomete a pele e diversos órgãos de animais domésticos, silvestres e do ser humano, constitui um grave problema de saúde pública devido a sua ampla distribuição geográfica, ao elevado número de casos e a gravidade de suas formas clínicas. É uma zoonose que acomete seres humanos e outras espécies de animais domésticos e silvestres, causada por Leishmania chagasi, cujo principal vetor incriminado pela transmissão é Lutzomyia longipalpis e o principal reservatório em zona urbana é o cão.
A Leishmaniose é adquirida através da picada da mosca flebotomínea, popularmente chamada de mosquito-palha (em função de sua coloração) que havia se alimentado anteriormente de um mamífero infectado. Estes pequenos mosquitos, que tem metade do tamanho de um pernilongo comum, depositam seus ovos em ambiente terrestres úmidos, ricos em matéria orgânica e com pouca incidência luminosa. Apenas as fêmeas se alimentam de sangue e, portanto, só elas atuam na transmissão das Leishmanias.
A atividade dos flebótomos é crepuscular noturna, embora algumas espécies possam picar durante o dia. Os lugares de descanso do mosquito são diurnos e relativamente frescos e úmidos, e incluem casas, latrinas, armazéns, estábulos, cavernas, rachaduras nas paredes, rochas, solo, vegetação densa, buraco nas árvores ou grandes raízes aéreas, tocas de roedores e outros mamíferos, ninhos de aves e cupinzeiros.
Os cães infectados podem apresentar a Leishmaniose de duas formas clínicas:
1) afetando a pele ocasionando úlceras na leishmaniose cutânea;
2) afetando as vísceras (fígado, baço e medula óssea principalmente) na leishmaniose visceral.
Na leishmaniose visceral os cães podem ficar infectados por vários anos sem apresentar sinais clínicos, porém estes cães permanecem como fonte de infecção para o inseto transmissor, e, portanto, impõe risco à saúde de todos (seres humanos e cães). A única forma de detectar a infecção nestes animais é por meio de exames laboratoriais específicos para a doença.
Quando os cães adoecem, apresentam principalmente os seguintes sinais clínicos: apatia; descamações na pele; queda de pelos localizada ou generalizada, inicialmente nos focinhos, ao redor dos olhos e nas orelhas, extremidades; emagrecimento progressivo; lacrimejamento (conjuntivite e ceratite), presença de nódulos que eventualmente podem ulcerar e crescimento anormal das unhas.
Nos humanos os sintomas que sugerem leishmaniose são a febre, que pode ter semanas de duração, fraqueza, inapetência, anemia, emagrecimento, palidez, aumento de órgãos como o baço e o fígado, além de comprometimento da medula óssea, do sistema respiratório, diarreia e sangramentos na boca e no intestino.
Na leishmaniose cutânea em cães, a úlcera cutânea sugestiva costuma ser única, eventualmente múltipla, localizada nas orelhas, focinho ou bolsa escrotal. No entanto, deve-se estar atento a outras doenças que causem úlceras, tais como neoplasias e piodermites.
Controle e Prevenção
As estratégias de controle parecem adequadas, mas na prática a prevenção de doenças transmissíveis por vetores biológicos é bastante difícil, ainda mais quando associada à existência de reservatórios domésticos e silvestres e aos aspectos ambientais, incluindo aspectos físicos de utilização do espaço habitado.
O controle do vetor tem sido baseado no uso de inseticida direcionado para as formas adultas, uma vez que os criadouros da espécie são pouco conhecidos. O inseticida de ação residual é aplicado no interior das casas e abrigos de animais, sendo esta medida considerada eficaz para reduzir a população de flebotomíneos e, conseqüentemente, os níveis de transmissão. No Brasil, estas ações foram sempre descontínuas por diversas razões, tais como problemas orçamentários e escassez de recursos humanos adequadamente treinados. Estas medidas não atingiram os efeitos esperados, ocorrendo reinfestações dos ambientes e ressurgimento de casos humanos e caninos de Leishmaniose Visceral.
Também foram tentadas experiências baseadas no controle do vetor e centradas no reservatório canino, como os experimentos com coleiras impregnadas com deltametrina e pipetas aplicadas na região do pescoço do animal que têm mostrado resultados promissores na proteção dos animais, com consequências na transmissão.
A deltametrina é o repelente recomendado pela Organização Mundial da Saúde para impedir o contato dos cães com o mosquito transmissor da leishmaniose visceral. Ela é recomendada mundialmente pelos principais especialistas das mais renomadas instituições de saúde.
O caminho mais simples e efetivo para garantir a saúde e bem-estar de todos. “Dentre os métodos disponíveis para a prevenção, o uso de inseticidas e repelentes no animal é a forma mais eficaz para evitar a transmissão aos humanos.
Tratamento
No Brasil até então, cães acometidos pela doença eram indicados à eutanásia, pois são hospedeiros do vetor. É uma doença que leva ao óbito em até 90% dos casos não tratados.
Acontece que os Ministério da Agricultura (MAPA) e da Saúde aprovaram a comercialização no Brasil de um medicamento para tratamento da Leishmaniose Visceral Canina (não pode usar em humanos): o Milteforan, já disponível no mercado.
Com o uso da medicação, o cão poderá obter a cura clínica e epidemiológica. Porém, apesar de reduzir significativamente a quantidade de parasitas e o cão deixar de ser transmissor da doença, a leishmania permanecerá em seu organismo. A repetição do tratamento, a fim de manter os níveis baixos da quantidade de parasitas é fundamental para o tratamento eficiente.
O tratamento dos cães é apenas um dentro de um conjunto de outras medidas necessárias para a prevenção. A medida mais eficiente continua sendo o combate ao mosquito, impedindo-o de se multiplicar e de picar animais e humanos, através da utilização de repelentes”.
Se a situação já não fosse grave o bastante, estudos recentes apontam que provavelmente existe outro vetor, novos insetos transmitindo a leishmaniose. Em fatos raros, pulgas e carrapatos já transmitem a doença.
Vacina
Para proteger os cães, existe hoje a única vacina recombinante do mercado contra a Leishmaniose.
A vacina foi desenvolvida a partir da proteína A2, classificada como um dos melhores antígenos capazes de induzir resposta imune celular, porque é específica e protetora contra a Leishmania.
Presente no mercado há 10 anos, a vacina passou por uma série de estudos. “ Os estudos mostram que a Leish-Tec induz resposta protetora em 96,41% dos cães vacinados. Além disso, os animais vacinados apresentam anticorpos anti-A2, demonstrando um alto nível de proteção individua e redução dos efeitos colaterais”.
A vacina é recomendada para cães a partir de 4 meses de idade, clinicamente sadios e sorologicamente negativos contra a Leishmaniose. “O animal deve ser vacinado com três doses em intervalos de 21 dias e a revacinação é anual”.
A vacinação dos cães é uma ferramenta importante na luta contra a leishmaniose. Devemos lembrar que além da vacinação, a proteção dos cães com um produto tópico repelente contra mosquitos é de suma importância para manter esses vetores afastados.
Portanto a primeira coisa a se fazer é levar o seu peludo regularmente ao veterinário e solicitar um exame específico para diagnóstico da leishmaniose. Se o resultado for negativo, devemos partir imediatamente para a prevenção, dessa doença, tida como uma das cinco piores do mundo. Se for positivo, o tratamento deve ser iniciado e mantido para o resto da vida.